segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Outra forma de Morrer

Devia morrer-se de outra maneiera.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentissemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir
de novo todas as manhãs, convocariamos os amigos mais intimos
com um cartão de um convite para o ritual do grande desfazer:
"Fulano tal comunica ao mundo que vai transformar-se em nuvem hoje ás 9horas. Traje de passeio".
e então, solenemente, com passos de reter tempo,
fatos escuros, olhos na lua, de cerimónia, viriamos todos assistir à despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio. "Adeus? Adeus!"

Amor, Saudade, Morte

Porque vieste ? - Não chamei por ti
Era tão natural o que eu pensava,
(Nem triste, nem alegre, de maneira
que pudesse sentir tua falta...)
e tu viste,
como se fosses necessário!

Nunca mais venhas assim:
pé ante pé, cobardemente oculta
Nas ideias mais simples,
Nos mais ingénuoos sentimentos:
Um sorriso, um olhar , uma lembrança...
- Não sejas como o Amor!

É verdade que vens, como se fosses
uma parte de mim que vive longe,
presa ao meu coração
como um elo invisivel;
Mas nao regresses mais sem que eu te chame,
- Não sejas como a Saudade!

Émbora a dor me fira, de tal modo
Que só as tuas mãos saibam curar-me,
Ou ninguém, senão tu, possa entender
O meu contentamento,
Não venhas nunca mais sem que eu te chame,
- Não sejas como a Morte!



Carlos Queirós